Inédito no Brasil, estudo publicado no The International Journal of Prosthodontics, órgão oficial do Colégio Internacional de Protesistas, é apresentado no Congresso Internacional de Odontologia do Centenário da APCD, no Expor Center Norte.

“Tem bruxismo? Isso é stress”. Quem convive com o problema de apertar e ranger os dentes enquanto dorme já ouviu esta frase, pelo menos, uma vez na vida. Depois de dez anos de estudos, um grupo de pesquisadores em dor orofacial, bruxismo e desordens do sono da PUC do Rio Grande do Sul, comandado pelo cirurgião-dentista Márcio Lima Grossi, começa a dar uma nova abordagem ao problema, na qual o stress deixa de ser o vilão do bruxismo para tornar-se apenas um coadjuvante. Para estes estudiosos, o bruxismo está associado à dificuldade de se respirar durante o sono leve – estágio anterior ao sono profundo.

O trabalho científico publicado no The International Journal of Prosthodontics, órgão oficial do Colégio Internacional de Protesistas, será apresentado pelo professor Márcio Grossi pela primeira vez no Brasil às 15 horas do domingo (30) no Congresso Internacional de Odontologia do Centenário, promovido pela APCD – Associação Paulista dos Cirurgiões-Dentistas, no Expo Center Norte, São Paulo.

A pesquisa demonstrou que o uso de um dispositivo de avanço mandibular (conhecido por “placa de ronco”) durante 30 dias melhorou significativamente o bruxismo de 27 dos 28 pacientes estudados. Dos pesquisados, 13 eram mulheres e 15 homens, entre 12 e 42 anos. “O bruxismo e a apneia têm relação à dificuldade da passagem do ar. Imagine uma freeway. No bruxismo, todos os carros passam com uma velocidade menor. Na hipopnéia, só 50% dos carros passam; e na apnéia, nenhum carro passa”, explica o cirurgião-dentista Márcio Lima Grossi, mestre pela Universidade de Michigan, doutor pela Universidade de Toronto e membro da Associação Gaúcha do Sono, ligada à Sociedade Brasileira do Sono.

Distúrbios do sono

O primeiro estudioso do sono a descobrir a função do bruxismo para a respiração foi o cirurgião-dentista franco-canadense Gilles Lavigne, Professor Titular e Diretor da Faculdade de Odontologia da Universidade de Montreal, autor do primeiro livro no mundo sobre as desordens do sono para cirurgiões-dentistas – “Sleep Medicine for Dentists: A Practical Overview”.

Segundo Lavigne, quando uma pessoa está acordada, a cabeça fica na posição ereta e a mandíbula na horizontal. Quando dorme, a cabeça fica na horizontal. A mandíbula fica na vertical e cai para trás. O bruxismo faz parte de um mecanismo de acordar/despertar, em geral no estágio do sono leve – quando a necessidade de oxigênio é maior do que no sono profundo. Sua função é manter a passagem das vias aéreas e a lubrificação da cavidade oral.

“Neste processo, a mandíbula é projetada à frente pelos músculos da região até os dentes entrarem em contato. A musculatura fica tensa para evitar que a mandíbula volte a cair para trás. É neste momento que a pessoa range e/ou aperta os dente. Esse mecanismo evita que a mandíbula volte a cair para trás, o que reduziria novamente a passagem do ar na região do orofaringe – que fica atrás do nariz e da boca”, ensina Grossi. 

O bruxismo normal ou fisiológico não provoca sintomas. Já o patológico ocorre em pessoas com dificuldade de entrar em sono profundo. “Quem fica muito tempo no sono leve pode ter até 40 minutos de bruxismo por noite. De manhã, tende a apresentar sensibilidade nos dentes da frente, dores de cabeça, na face e na articulação logo à frente dos ouvidos (articulação têmporo-mandibular). A longo prazo, corre o risco de ter desgaste excessivo dos dentes e o aumento do tamanho dos músculos da face”, diz o professor da PUC-RS. O bruxismo pode acontecer com o indivíduo acordado, e sua etiologia é diferente do bruxismo do sono, e normalmente não possui sintomas. É apenas um hábito adquirido que precisa ser mudado.

Vários fatores contribuem para retardar o sono profundo: sobrepeso, mandíbula muito pequena, úvula e/ou amídala grandes, consumo de álcool e drogas, predisposição genética, baixa produção de saliva, alimentação pesada antes de dormir, stress e luminosidade ou barulho no quarto que perturbem o sono, entre outros.

O tratamento clássico do bruxismo pode ser feito por meio de placas para proteger dentes e relaxar os músculos, as “placas de bruxismo”. Os dispositivos de avanço mandibular ou “placas de ronco” eram originalmente usadas por pessoas com dificuldades de passagem de ar ao dormir (apneia/hipoapneia), mas estas placas agora mostraram no estudo também reduzir significativamente o bruxismo do sono. “O bruxismo do sono pode ocorrer sem apnéia/hipopnéia. Mas se elas ocorrerem, haverá necessariamente o bruxismo”, conclui Grossi.

Ele adverte que nem todos os casos de bruxismo do sono podem ser tratados por cirurgiões-dentistas.

“Se a pessoa tem problemas de bruxismo, ronco e apnéia, precisa procurar um laboratório do sono e ser avaliada por uma equipe médica, que vai fazer o diagnóstico de apnéia/hipopnéia ou outros distúrbios do sono. O tratamento então é multidisciplinar”, afirma.

Fonte: CROSP

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